sábado, 10 de maio de 2008

“ANTES NUNCA DO QUE TARDE”

Acabo de frustrar uma das maiores fantasias de minha não tão longínqua adolescência. Eu não, a Gretchen!
Depois de quase um ano e meio reproduzindo filmes de boa, ou eventualmente má qualidade, meu aparelho de DVD teve a honra de reproduzir, pela primeira vez desde sua chegada, um filme pornográfico.
Não que eu seja um daqueles hipócritas que discursam em nome da moral e dos bons costumes, muito pelo contrário, quem me conhece bem sabe que sempre adorei pornografia, como todo e qualquer homem comum.
Levei todo esse tempo sem assistir um pornô pelo simples fato de não estar a fim. Acho que de tanto assistir fita de VHS desse gênero acabei ficando um pouco enjoado.
Mas hoje, aproveitando o fato de estar sozinho em casa, resolvi quebrar a rotina e me reportar ao passado. Fui à locadora mais próxima de minha casa e aluguei o filme “La Conga Sex”, estrelado por ninguém menos que ela, Gretchen!
Eu até teria um número enorme de opções de títulos, mas hoje eu queria matar a curiosidade que sempre consumiu a mim e a toda uma geração de homens que um dia fantasiaram dar “umazinha” com a Gretchen.
No final da década de 70 e início da de 80 nossa heroína levava platéias à loucura com seu rebolado hipnótico. Era o sonho de consumo de dez entre dez adolescentes. Homenageada solenemente em inúmeras borracharias país a fora.
Dona de um repertório musical tão importante para a história da música quanto o repertório da fanfarra de minha escola, Gretchen primava pela emissão de gritinhos de um apelo sexual enorme e pelo gingado “nádego” que inspirou ícones da música pop tupiniquim, como Carla Peres e afins.
As mulheres a odiavam, os homens a desejavam!
Era o estereótipo da destruidora de lares, a amante que papai sonhou, o pôster proscrito de toda e qualquer parede.
Havia todo um mistério em torno de suas aventuras extra-palco. Pouco se sabia a respeito de quem era seu marido. Mas isso não importava. A gente queria era saber de suas aventuras sexuais.
Ela devia ser um furacão na cama! – pensávamos nós.
Tudo o que se falava a seu respeito girava em torno de sexo. Até hoje não consegui decorar nenhuma das letras de suas músicas. E olha que elas eram tão difíceis quanto decorar a tabuada do 2!
Mas a música era apenas um detalhe...
O que importava mesmo era a bunda da Gretchen! Víamos ela e sua bunda se exibirem no Programa do Chacrinha, no Programa Barros de Alencar, no Clube do Bolinha e no Programa Sílvio Santos. Nesse último ela chegou a ser recordista de vitórias no quadro “Qual é a música?”, onde desfilava seu vasto conhecimento musical todos os domingos à tarde. Derrotava sem piedade verdadeiras enciclopédias musicais, tais como: Ed Carlos, Nahin, Ângelo Máximo e até grupos inteiros como o caso dos lendários Gengis Khan e Trio Los Angeles!
Até que um dia Deus premiou, a nós, amparenses, com uma apresentação “ao vivo” da moça na Rodoviária! Era a realização dos nossos sonhos!
E o público não decepcionou. A “arena” estava lotada para mais um concerto de aniversário da cidade. Antes dela alguns artistas locais fizeram o “open act” tocando sanfona, dançando umas bobagens, e até interpretando uns hit´s do momento. Mas a atração principal demorou a chegar.
A ala masculina evidentemente ocupava os espaços em frente ao palco e a feminina – elas não poderiam deixar de vir vaiar a coitadinha – ficaram espalhadas aleatoriamente buscando um ponto de visão estratégico em que pudessem comprovar que até a Gretchen tinha celulites.
As luzes se apagam!
É chegada a hora da verdade! O locutor da Rádio Difusora de Amparo, escalado para apresentar o evento anuncia que nossa rainha já estava se preparando. Só mais uns minutinhos e nossos sonhos se realizariam...
Tudo isso fazia parte do espetáculo. A ansiedade, a demora, enfim, a frescura aumentava o nosso anseio de visualizar a nossa musa.
E antes que os mais afoitos subissem ao palco para esganar o pobre locutor, o prefeito deu a ordem para começar o show. Sim! Até o prefeito estava presente. E assistiu ao espetáculo ao lado do palco com direito a beijinho na bochecha!
De repente surge num roupão branco purpurinado, ela: a nossa Gretchen!
Que já entra mandando bronca com seu maior sucesso: La Conga!
“Conga, la Conga... Conga, Conga, Conga!” – o refrão eu decorei.
Quando ela retirou o roupão Amparo veio abaixo! A rapaziada urrava de emoção! Era muito engraçada aquela cena. Parecia um bando de gente histérica celebrando a presença de sua maior autoridade pastoral.
Vi algumas mulheres chacoalhando a cabeça em sinal de desprezo e homens querendo subir no palco para tirar uma casquinha da cantora. Mas o fato mais insólito que presenciei foi uma mulher estapeando as costas do marido que ria e se defendia. Por que deixou ele vir então?
O “set list” contava com apenas três músicas, mas já foi o suficiente para virar a cabeça do pessoal. E ela, generosamente, nos brindou com um bis!
E tome mais “Conga, la Conga... Conga, Conga, Conga” ouvido adentro!
O show não deve ter durado mais do que 20 minutos, incluindo o discurso de congratulações pelo aniversário da cidade, que ela fez questão de fazer. Agradeceu a hospitalidade e a “educação daquele povo bonito, como ela nunca havia visto antes”.
Gretchen se foi... E deixou uma cidade órfã de sua mais doce visitante...
Aposto que muitos dos amparenses que estão encostados com tendinite no braço pelo INSS, tiveram ali, o ponta pé inicial de sua doença.
Passamos uma semana comentando sobre ela e seu bumbum e chegamos à conclusão que aquilo não era uma mulher com bunda, era uma bunda com uma mulher na outra ponta!
Comentávamos como seria aquela deusa na cama. Será que ela era ótima ou fantástica?
Sonhos, sonhos e mais sonhos...
Pagaríamos o que fosse preciso para ser uma mosca no quarto da Gretchen durante uma transa! Mesmo sendo menores de idade jurávamos invadir o cinema no peito para assistir ao filme, caso ela fizesse um. E fez. Mas a essa altura a cidade não mais possuía cinema...
Mas também não perdemos muita coisa, pois era apenas uma mera pornochanchada, que não mostrava quase nada. Mas sonhavamos...
Pois é... Quase trinta anos depois cá estou com o DVD dela na minha frente. E o mais improvável: com cenas de sexo explícito, como sempre sonhamos!
Juro que se eu tivesse o e-mail dela enviaria uma mensagem com os seguintes dizeres:
“Querida, e outrora desejada Gretchen...
Por que você destruiu os nossos sonhos? Por quê?
Por que não nos deixou com aquela sensação de que você sim, era mulher?
Por que não nos poupou de tamanha decepção?
Quero minha fantasia de volta!
Atenciosamente, um ex-fã”

Sinto-me enganado...
Nunca imaginei que isso pudesse acontecer. Tenho até medo de contar isso a meus amigos. Prefiro poupá-los de tão dolorosa desilusão.
Infelizmente eu pude constatar que Gretchen, a musa dos adolescentes oitentistas, a bunda mais desejada de nossa geração, não é de nada...
Se eu fosse um pequeno infante acho que sairia no meio da rua para gritar: “a Gretchen não é de nada, só come marmelada...”.
O DVD, que deve ter pelo menos uma hora de duração foi assistido em no máximo dez minutos! Que coisa mais sem graça!
Quem sou eu para falar das habilidades de alcova de alguém... Mas a Gretchen não podia ter feito isso conosco... Merecíamos morrer com essa ilusão de que ela era o Furacão Gretchen! E não esse ventinho sudoeste...
Há quase trinta anos esse filme me inspiraria inúmeras idas e vindas ao banheiro, mas hoje ele me inspirou apenas essa crônica magoada de alguém que um dia achou que uma mulher como a Gretchen deveria ser tombada pelo patrimônio público.
Não anseio mais nada nessa vida...
Só peço a Deus que nos poupe de mais decepções! Que mantenha sempre polpudas as contas bancárias de Claudia Raia, Luma de Oliveira, Luísa Brunnet, Monique Evans...

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