Todo porre homérico vira lenda. Toda bebedeira que termina apenas em vômitos e situações pitorescas, se transforma em piada. Toda vez que alguém, a quem não se está acostumado, aparece do nada, no mais completo e patético estado de embriagues, vira herói sátiro dos amigos.
Quando alguém resolve agregar tudo isso num porre só, acaba virando tema de crônica se se tem um amigo escritor.
Não ouve em nossa “turma” quem não tenha amarrado um porre “daqueles”! Alguns se tornaram lendários como aquele do Gui que teve como coadjuvante o seu cunhado, que querendo ajudar, pingou limão na orelha do coitado dizendo que ajuda a curar bebedeira.
Ou aquele em que o Pavão, na volta para casa, bateu de frente com um tapume, caiu num jardim, levou duas horas para percorrer um percurso de 15 minutos, mas não vomitou! Deixou para fazer isso em casa, assim que avistou o corredor.
Houve gente que bebeu tanto que seus atos nem assustavam mais como o Tchelão, o doutrinador.
Mas nunca houve um porre como o do Baixinho!
Esse cidadão, um dos irmãos que Deus me deu o direito de escolher, era conhecido, entre tantos apelidos, pela alcunha de Baixinho dados seus atributos físicos.
O Baixinho sempre foi, e ainda o é, aquele estereótipo de cidadão de caráter irretocável!
Religioso, trabalhador, muito bem educado, culto, fiel, e às vezes até “Caxias”. Afinal, que tipo de funcionário público levaria para o trabalho o seu próprio computador para facilitar o andamento do laboro?
Assim como qualquer garoto em plena fase de descobertas, ele também bebia com a moçada, mas como era de seu perfil, moderadamente. Ficava “alto” , nunca bêbado.
Até então ele era aquela figura que ajudava todo mundo a voltar para casa. Depois que entregava os bebaças aos seus respectivos pais, ele voltava para a sua casa. Enfim, o genro que toda sogra sonhou.
Até que um dia...
Era uma noite de Sábado dos saudosos anos 80. Os Titãs, sucesso absoluto do momento, iam tocar na Danceteria Shock e nós não podíamos ficar de fora.
Enquanto eu fazia às vezes de bom namorado, a turma toda se reuniu para se concentrar na casa do Gui. Dali sairiam rumo ao show.
Como só eu namorava naquela época, combinei de encontrá-los na danceteria assim que deixasse a Hellen em casa.
Quando cheguei em frente à porta da casa de espetáculos, percebi que o volume de pessoas era enorme e dei graças a Deus por ter comprado o ingresso com antecedência.
Com tanta gente a minha volta ficava difícil de saber onde estava a “corja”. De repente senti um cheiro de lança perfume e tal qual o Pica Pau fazia em seus desenhos animados fui guiado pelo seu odor característico.
Não deu outra! Achei a “horda”.
Todo mundo estava “chapado”, sem exceção. Claro, apenas eu estava normal.
Como parte de nosso ritual peculiar de amizade, mandei um a um “tomarem no cu” (esse era nosso cumprimento cordial), mas senti a falta de alguém, o Baixinho.
Quando o Batuta me disse que o infeliz estava no hospital achei engraçado e perguntei se ele tinha ido ao bar ou se estava tirando água do joelho. De novo o Ba respondeu que ele estava internado no hospital em coma alcóolico.
Incrédulo, perguntei ao Gui se era verdade e ele se rachando de rir, disse que sim, mas que depois contava a história já que o show estava por começar.
A partir daí a lenda, contestada em partes pelo Baixinho, diz o seguinte:
Era uma vez um menino que não sabia beber...
Durante a concentração para o show, na casa do Gui, foram servidos diversos drink´s, tais com: vodka com Fanta, vodka com guaraná, vodka com vodka, St. Remy, cachaça e cerveja.
Consta que nosso herói “matava” tudo o que lhe ofereciam, e como ele não estava muito acostumado a extravagâncias, não demorou quase nada para que o efeito do álcool lhe subisse à cabeça.
Da casa do Gui eles foram à praça dar uma olhada (?) no movimento. E provavelmente viram tudo girando.
O pessoal começou a perceber que ele não estava bem quando ele pediu, apenas com o sinal da mão para que o Ronnie desse licença para encostar-se no muro. Seria absolutamente normal, se ele não tivesse usado a mão por falta de voz. O coitado mal conseguia balbuciar seu nome...
À medida que o tempo ia passando o álcool ia deixando o Baixinho num estado cada vez mais deplorável, e quando a turma resolveu descer até a danceteria, ele o fez com o auxílio de um ,ou mais, ombro amigo.
A Shock ficava em frente ao Terminal Rodoviário de Amparo e antes de invadirem o recinto, decidiram usar os sanitários da rodoviária já prevendo o tumulto que estava dentro da casa.
Mais bêbado que um gambá, o pequeno manguaceiro começou a cair pelo chão. Imaginem como ficou a roupa do bebaça! Chão de banheiro já não é saudável, em uma rodoviária então...
Vendo, ou tentando enxergar o problema do amigo já que todos estavam mamados, o Batuta pediu para que o Ronnie enfiasse o dedo na garganta do Baixinho para que ele vomitasse, como se isso fosse melhorar.
Esse, por sua vez, se negou terminantemente a colocar sua mão na boca do amigo alcoólatra. Foi preciso certa persuasão por parte do Ba para que o Ronnie o obedecesse. E isso nem foi tão difícil, já que um era magro com 1,60 M de altura e o outro pesava mais de 100 kg e media quase 1,80 M.
Não coordenando muito bem as idéias ele optou por colocar o dedo do próprio Baixinho na garganta do mesmo. Como esse estava praticamente desmaiado ficou muito difícil introduzir um só dedo em sua boca. Assim sendo o Ronnie tentava enfiar a mão inteira.
Alguém, num espasmo de lucidez, resolveu que era hora de encaminhá-lo ao hospital e isso se deu da forma mais discreta possível: de carona com uma viatura da polícia!
Lá chegando ele foi medicado e dizem, vomitou até as tripas! Ao invés de usarem o telefone, o resto dos bebaças resolveram dar a notícia pessoalmente para os pais do Baixinho.
Para não assustarem demais(?) os coroas, foram escolhidos dois representantes que estavam um pouco melhor: O Gui e o Pavão! Justamente dois dos que mais bebiam...
Não se sabe como, mas eles conseguiram subir a ladeira que levava até a casa do Pequeno pudim de cana e antes de tocarem a campainha ficaram lado a lado em posição de quem faz de conta que não está bêbado.
Quando o pai do manguaça deu de cara com os dois pendendo feito bonecos de posto de gasolina, ele já imaginou do que se tratava.
- “Obaaa...o Baixinho num tá bão... tá lá no hossshhpital...” – leia-se com sotaque de quem bebeu muito
- “Vocês drogaram meu filho”! – gritava a mãe desesperada
Os quatro subiram no carro do pai do cachaceiro e foram rápido para o Hospital e como bêbado perde a noção do que faz, em meio ao desespero da mãe e aos risos do pai, o Gui teve a petulância de pedir para que o rádio fosse ligado. Só para eles irem curtindo um som até o hospital (?).
Lá chegando, enquanto a mãe pedia encarecidamente para que o nome de seu rebento não saísse na coluna policial, o resto da “corja” tentava, em vão, explicar o ocorrido para o pobre do pai.
E para não chegarem atrasados ao show, a turma toda pediu carona para os policiais que voltariam para lá também. O pior é que eles aceitaram dar a carona! Imaginem que glória não foi chegar a danceteria no carro da polícia!
No dia seguinte, pela manhã, liguei na casa do pequeno manguaceiro para saber como ele estava. E estava tão bem que já tinha saído para jogar futebol com a galera. Quem atendeu foi sua mãe que me segurou no telefone por longo vinte minutos. Confortei a pobre senhora dizendo que aquilo foi um ato isolado, que seu filho era o mais comportado de todos, etc. Mas a essa altura o estrago já estava feito...
Não há reunião entre amigos em que esse caso não seja relembrado hoje em dia. Para desespero do Baixinho, sempre que conhecemos alguém que não ouviu a história, relembramos o caso mais uma vez para que fique bem claro que ele foi o único que tomou glicose na veia!
Nunca houve um porre igual ao do Baixinho...
sábado, 10 de maio de 2008
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